sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

BOCA DO LIXO INTERVIEW 01 - ''ESCRITA URBANA''

BOCA DO LIXO entrevista Thiago Fernandes Castro, nascido e criado na cidade de Mogi das Cruzes(São Paulo) 23 anos, formado em Artes Plásticas na mesma cidade, envolvido com Graffiti desde 1998. No fim de 2007, acompanhado de mais dois amigos montou uma exposição que mesclou a técnica da fotografia e da instalação, em busca de trazer o espaço externo para dentro de um interno, expondo todo o cotidiano e as texturas urbanas.


BOCA DO LIXO - GRAFFITI E PIXO, QUAL A DIFERENÇA (SE É QUE EXISTE)? QUAL A SUA DEFINIÇÃO PARA AMBAS AS TECNICAS DE CALIGRAFIA? O QUE VEM A SUA MENTE QUANDO MENCIONAM ESSAS DUAS PALAVRAS?

THIAGO - Existe, existe sim, principalmente na forma de composição visual de cada um. O graffiti tem como característica uma forma muito mais elaborada, onde se usa diversas cores, e muitos recursos técnicos, como luz e sombra, brilho, tridimensionalidade. Já a pichação usa apenas traços, na maioria traços lineares. Porém, os dois interferem na cidade usando os mesmos suportes, muros, portas comerciais, trens, fachadas, topos de prédios. E é aí que se percebe onde a pichação se assemelha muito ao graffiti. O graffiti é considerado a evolução visual da pichação, já que “graffiti” vem de “graffito”, palavra de origem italiana que significa escritura, inscrição. O comportamento do grafiteiro e do pichador também é bem parecido. Apesar de muitos não saberem, existe uma coisa muito forte também do grafiteiro com a transgressão, com o vandalismo. O grafiteiro, muitas vezes também se apossa de locais públicos ou privados para deixar sua marca. Essa relação do graffiti com a pichação em São Paulo fez surgir até um novo estilo de escrita urbana, o grapixo.


BOCA DO LIXO - TODO GRAFITEIRO JA FOI UM PIXADOR? TODO PIXADOR TENDE A SER UM GRAFITEIRO? COMO VC VE ISSO? EXISTE MUITA DIFERENÇA NESSES CAMPOS DE ATUAÇÃO?

THIAGO - Não, nem todo grafiteiro já foi pichador. Provavelmente já passou pela experiência de rabiscar muros, o que não é ser um pichador. E com certeza não são todos os pichadores que tem um futuro de grafiteiro, pois a pichação, apesar de pra muitos ser uma coisa banal e sem causa é um estilo forte e marcante de caligrafia, é uma cultura rígida há anos em São Paulo e em outros Estados.


BOCA DO LIXO - RECLAMAÇÃO DE UMA DE UMA MORADORA DA CIDADE DE SAMPA...TRECHO:
''EU ODEIO ESSES VÂNDALOS..NUM SEI POR QUE ELES PINTAM MINHA CASA?...POR Q ELES NUM VÃO PINTAR EM LUGARES COMO AS CASAS DELES''
O QUE VC TEM A DIZER SOBRE O TRECHO MENCIONADO? QUAL O SEU PONTO DE VISTA EM RELAÇÃO A ESTE CASO?

THIAGO - Bom, o que pode se perceber, é que é o caso de uma pessoa que reclama por um direito dela, de ter seu imóvel conservado. Porém, fica claro também que a pessoa não tem noção de o que é a pichação, o porque dela acontecer, desconhece suas causas, situação muito comum à maioria da população. A pichação é uma conseqüência de um problema social de nosso país, a maioria dos praticantes da pichação são adolescentes residentes na periferia. O mesmo tem enorme dificuldade em se infiltrar na sociedade de uma forma justa, através de um emprego, por exemplo, isso sem contar sua cultura e preconceitos anti-sociedade. Então ele infiltra nessa sociedade de maneira que ele acha, e sabe, que vai ser notado.

BOCA DO LIXO - COMO É ESSA CENA DO PIXO E DO GRAFFITI FORA DO BRASIL (VC TEM CONHECIMENTO?)? É MAIS POTENTE QUE AQUI? MAIS FRACA? NA SUA OPINIÃO QUEM SÃO OS GRANDES NOMES ATUANTES?

THIAGO - A “pixação”, como é grafada em São Paulo por ser um estilo totalmente próprio originário daqui, já se expandiu para alguns países de grande fluxo de brasileiros. No Japão, por exemplo, a pichação paulista anda dando trabalho. Diversos brasileiros de descendência ou relação oriental vão até lá em busca principalmente de uma estabilidade financeira, e acabam deixando suas marcas pelo país. Existe até um brasileiro que até a pouco tempo se encontrava preso por lá, depois de pichar cerca de quase 200 topos de prédios.
A pichação que existe em São Paulo não existe por criação em mais nenhum lugar do mundo, é uma caligrafia extremamente original da terra da garoa. O graffiti brasileiro também vem se demonstrando independente e se descolando bastante dos padrões originais norte-americanos, artistas como Os Gêmeos, vem levando a cultura folclórica brasileira não só para os brasileiros, mas também para fora do Brasil, e uma coisa importante, sempre fiel à técnica e a cultura do graffiti. Entre grafiteiros e pichadores mais ativos do Brasil estão Os Gêmeos, Nunca, Nina, Zezão, Boleta, as gangues Túmulos, Os Cururu, CDV e muitos mais.

BOCA DO LIXO - SABEMOS QUE O GRAFFITI É UM DOS ELEMENTOS DA CULTURA HIPHOP....COMO VC VÊ ESSE ELEMENTO DENTRO DA CULTURA HIPHOP? FORTE? FRACO? SOLITÁRIO? ENRIQUECENDO O MOVIMENTO?...QUAL SUA OPINIÃO?

THIAGO - Eu vejo o graffiti como um elemento muito forte na cultura hip-hop, mas também vejo ele muito independente. A maioria dos grafiteiros não tem um vínculo muito exposto com o hip-hop, pelo menos aqui no Brasil, mas um contato intenso com as ruas, onde também se encontram punks e roqueiros, por exemplo. O graffiti hoje não é apenas a arte plástica da cultura hip-hop, mas sim uma grande forma de expressão plástica mundial. O graffiti passou de expostos nas ruas, em galerias a céus abertos, para galerias de arte contemporâneas fechadas. Se isso é bom ou ruim, cada um tem uma visão, mas o que é certo é que o graffiti vem se firmando cada vez mais como arte contemporânea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS!!!!

THIAGO - Bom, eu queria deixar aqui a minha idéia, para que as pessoas, cidadãos comuns, prestem mais a atenção a o que os rodeia, não apenas apontando os milhares de defeitos da sociedade, mas procurando tentar entender o porque de cada um, pois esse é o primeiro e principal passo para se extinguir um problema de verdade, e digo isso, não apenas para solução do assunto aqui tratado, mas de problemas muito mais graves, pois a pichação já faz parte da nossa Cultura. Obrigado.


VIDEO DA EXPOSIÇÃO TECNICA DA FOTOGRAFIA E INSTALAÇÃO



''exposição que mesclou a técnica da fotografia e instalação''
(instalação é quando juntamos elementos físicos, formando uma obra de arte)

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